TODOS ÀS RUAS EM 15 DE MAIO!
(Nota do PCB)
A Copa do Mundo de 2014 trará um saldo negativo e amargo para o povo
brasileiro. Antes, durante e depois dela, ficará claro que se trata de
um grande evento empresarial, com o objetivo principal de beneficiar o
capital nacional e internacional que lucrará muito com o empreendimento,
promovidopela multinacional FIFA e pelos grandes monopólios
patrocinadores da competição.
Aquela Copa do Mundo que deixava à flor da pele a paixão dos
brasileiros pelo futebol e os unia pela “seleção canarinho”, não existe
mais. Foi sequestrada, como mercadoria de luxo, por uma bilionária
campanha midiática, empresarial e comercial, onde o que menos importa é
esse esporte de massas e o encantamento popular que ele um dia motivou. O
capitalismo transforma em mercadoria tudo que lhe possa dar lucro.
O que importa são os negócios, os lucros, o legado para os
capitalistas, para a valorização dos jogadores de prestígio, mercadorias
caras, algumas fabricadas, no milionário mercado mundial de jogadores
de futebol. A Copa hoje não passa de uma feira de luxo, uma vitrine para
compra e venda de “produtos” milionários.
Não veremos mais os Garrinchas, com suas pernas tortas, sua
simplicidade, fiel à sua camisa, à cidade onde nasceu, amigo de seus
amigos. Cada vez mais veremos mercadorias produzidas por seus
empresários e marqueteiros. Os jogadores de primeira linha, alguns
descobertos nos campos suburbanos, viraram produto de exportação. Só os
vemos nos campeonatos europeus, com a camisa dos times que os compraram
ou alugaram.
Veremos nesta Copa africanos comprados e tornados cidadãos de países
europeus, raros negros aceitos em países de maioria racista. Pelo menos,
enquanto são jovens e “produtivos”.
As massas populares, que têm ido e que irão às ruas contra esta Copa
dos ricos, não o farão contra o evento esportivo em si, mas contra seus
sequestradores, que o descaracterizaram em benefício exclusivo de seus
vultosos lucros e só se preocupam com quem pode pagar os caros
ingressos. As arquibancadas hoje tem um perfil de brancos, bem vestidos e
educados. Não importa que entendam ou gostem de futebol, mas que possam
comprar os ingressos, estacionar seus carros, consumir.
Roubaram nossos estádios, onde os proletários e a classe média
confraternizavam, nas arquibancadas e gerais, unidos pelo amor ao time
do coração. Roubaram nossa alegria, nosso convívio, numeraram e
privatizaram nossos lugares nos estádios! Resta ao povo assistir alguns
poucos jogos na televisão aberta.
Antes da Copa, o governo, atualmente dirigido pela FIFA, já editou
uma portaria das Forças Armadas, para reprimir os movimentos populares,
considerando-os como “inimigos” da nação, lembrando os atos
institucionais, exatamente aos 50 anos do fim da ditadura.
A portaria fortalece o clima de terror estatal já criado com a
famigerada lei da copa, aprovada pelo governo e pelos partidos da ordem,
inclusive alguns que se dizem de esquerda. Tudo isso, aliás, é
administrado e legitimado por um Ministério dos Esportes dirigido por um
partido que se diz comunista, retribuído pela burguesia para
funcionalmente simular a unidade entre o capital e o trabalho.
Todo este aparato, para a garantia “da lei e da ordem”, está sendo
montado para a viabilização dos jogos da Copa e para mostrar ao mundo
que o Brasil tem um capitalismo “inclusivo”, onde todos ganham, sem
contradições de classe e sem manifestações contra o governo e o sistema,
constituindo-se num bom e seguro destino para turistas e investimentos
estrangeiros.
Esta máquina repressiva, que conta com um enorme contingente policial
cada vez mais letal e militarizado e agora com dezenas de milhares de
tropas e equipamentos das Forças Armadas - todos preparados para uma
guerra contra os inimigos da “pátria de chuteiras” - não está sendo
montada apenas para a Copa, mas para além dela. Com as lutas populares
se acirrando em todo o país, este aparato vem para ficar, para
radicalizar uma política de criminalização da pobreza, dos movimentos e
lutas populares.
A Portaria do Ministério da Defesa, que estabelece as “Operações de
Garantia da Lei e da Ordem”, iguala os manifestantes a “membros de
quadrilhas” e tipifica como ações de “grupos oponentes” a serem
reprimidas, desde o fechamento de vias públicas a greves e paralisação
de setores produtivos e serviços públicos. Sob o pretexto de garantia
dos grandes eventos esportivos, suspende-se o direito de manifestação,
de organização, de greve. É a volta da doutrina da Segurança Nacional. A
lei da Fifa suspende as garantias individuais e os direitos
fundamentais da própria Constituição Federal.
Em várias cidades-sede, dezenas de milhares de famílias foram
arbitrariamente removidas de suas casas, para abrir espaço para a
especulação imobiliária, estádios e aeroportos privatizados, tudo a
toque de caixa. Abriram-se pontes e estradas para a mobilidade dos
turistas, não do povo trabalhador. Os governos federal e estaduais estão
gastando uma fortuna em obras e outras despesas para a Copa; os mesmos
governos que não aplicam em saúde e educação. Os constantes
superfaturamentos das obras indicam desperdício de dinheiro público e
sinalizam corrupção.
O caso do Rio de Janeiro é mais dramático, pelo fato de sediar as
Olimpíadas, dois anos depois da Copa, e porque é uma cidade em que as
diferenças sociais provocadas pelo capitalismo são muito nítidas.
As UPPs foram implantadas criteriosamente no caminho por onde
passarão os turistas e acontecerão os eventos. Com elas, chegaram
policiais cada vez mais violentos e militarizados, mas não postos de
saúde, escolas, creches. É um extermínio de pobres, principalmente
negros. Não há um dia sem que um morador de favelas seja assassinado
pela polícia. A médio e longo prazos, o projeto UPP é para expulsar os
atuais moradores das comunidades pobres, sobretudo de regiões com boa
localização, para a expansão da especulação imobiliária. Em muitos
morros, condomínios de luxo substituirão os casebres. Depois da Copa, o
Rio de Janeiro será governado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).
Independente de quem for eleito governador, a violência policial tende a
aumentar cada vez mais. Não existe “cassetete democrático”.
Quase a metade da população brasileira está contrariada com a Copa e,
mesmo com apelos patrioteiros na televisão, não há clima de alegria e
de euforia como em outras Copas, mesmo realizadas no exterior, quando os
moradores decoravam seus locais de moradia com as cores nacionais.
Durante a Copa, o povo que frequenta os estádios não vai poder chegar
nem perto deles, nem mesmo dos bares próximos. Um perímetro de 2 km no
entorno dos estádios será considerado "local oficial de competição",
onde só os patrocinadores poderão vender seus produtos; os ambulantes
serão reprimidos. Em Salvador, as tradicionais baianas não poderão
vender o acarajé, um de nossos maiores patrimônios culturais. Em todos
os Estados, os torcedores serão majoritariamente brancos, da classe
média alta para cima.
O governo, a FIFA e a burguesia sabem que vai haver muito protesto,
por todas as demandas que ocasionaram as revoltas que começaram em junho
do ano passado, potencializadas agora com o fato de a Copa ter tirado
do povo uma de suas maiores alegrias, frequentar estádios de futebol
quando os preços eram acessíveis. Este fato marcará com muita nitidez o
que é o capitalismo: tudo para poucos, nada para muitos.
Esta repressão tenta desmobilizar, pelo terrorismo de estado, os
movimentos populares e trabalhistas. Contudo, as lutas se intensificam,
as greves espalham-se em várias categorias, ignorando o medo, a
repressão e até mesmo as direções cooptadas e pelegas, como vimos nas
greves dos garis no Rio de Janeiro durante o carnaval e nas greves e
paralisações dos trabalhadores do COMPERJ, e rodoviários no Rio. Outras
categorias se mobilizam, defendem seus direitos e avanços para os
trabalhadores, como as greves dos servidores públicos e profissionais de
educação.
Os setores em luta devem unificar suas bandeiras, suas palavras de
ordem, suas mobilizações, o diálogo entre os movimentos sociais,
sindicais, populares, estudantis, partidos do campo socialista e
comunistas, movimentos anarquistas e autonomistas precisam unificar a
resistência para possibilitar a ofensiva dos trabalhadores. As
manifestações também continuarão e se ampliarão: o povo brasileiro está
aprendendo a lutar e perdendo o medo da repressão. Não há um dia em que
não haja uma revolta popular em alguma localidade, sempre em reação a
alguma violência ou injustiça contra a população. E sempre com razão. A
luta de classes ficará cada vez mais nítida.
Definitivamente, essa copa não é nossa!
Mas a copa passa, e a luta continua!
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
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