terça-feira, 3 de setembro de 2013

Barrar a EBSERH em Pelotas: uma luta de vida ou morte!

Nota Política do PCB/Pelotas
(Para acessar a versão em pdf, clique aqui)


            Nos últimos anos, a precarização da saúde pública em Pelotas tem se agravado continuamente. Isso é um reflexo da crise sistêmica do capitalismo e da necessidade dos governos – federal, estadual e municipal –  de administrarem esta crise que se intensifica em âmbito mundial e se reflete em todas as esferas da sociedade. O cinto, porém, nunca é apertado no que se refere aos patrões: para combater a crise, os governos dão vultosas isenções fiscais e abatimentos para os empresários, ao passo em que atacam os direitos sociais e trabalhistas sucateando o serviço público. Quem sofre as consequências diretas e imediatas da crise do capital é a classe trabalhadora. É ela quem paga por uma crise que não criou, mas que é, isto sim, resultado de uma festa à qual nunca foi convidada.
           

Mascarada pelo discurso oficial e pelos publicitários do governo, a realidade das ruas contrasta com a farsa da televisão e da grande mídia. O fato é que a burguesia nunca acumulou tanto capital como nestes últimos anos, como o próprio Lula reiterou diversas vezes. A desigualdade social entre os mais ricos e os mais pobres, maquiada pelos discursos oficiais, tem aumentado paulatinamente. Os investimentos em saúde e educação pública são cada vez menores em relação aos gastos com a dívida pública, o agronegócio, o sistema financeiro e outros setores privados, que não representam os interesses da imensa maioria da população brasileira.
           
Desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a contrarreforma do Estado tem operado essencialmente na perspectiva neoliberal cujo ápice se deu com a Reforma Administrativa do Estado (conhecida como Plano Bresser Pereira). As privatizações, a retirada de direitos trabalhistas e a precarização do serviço público têm sido a palavra de ordem dos últimos governos brasileiros. A entrada em cena do governo petista não reverteu esse quadro. Antes o contrário: o que se vê, na regência de Dilma Rousseff é a intensificação da exploração, o aumento das concessões ao imperialismo e a retomada de medidas de cunho neoliberal.
           
Os exemplos são fartos. Sob o pretexto da Copa da FIFA e supostamente para melhorar a prestação de serviços aos turistas que virão ao Brasil, o governo petista privatizou diversos aeroportos no ano de 2012: Guarulhos, em São Paulo; Viracopos, em Campinas; Juscelino Kubitschek, em Brasília; Galeão, no Rio de Janeiro; Confins, em Belo Horizonte. O Programa de Investimentos em Logística deu pretexto a mais privatizações: rodovias e ferrovias são entregues ao capital privado, sob o  cínico eufemismo de concessões (que duram gerações e podem ainda ser renovadas...). Os "leilões do pré-sal"  também estão sendo organizados para entregar à iniciativa privada e ao imperialismo os recursos públicos oriundos da exploração do petróleo brasileiro.
           
Além da privatização dos serviços públicos e dos recursos naturais, os direitos sociais e trabalhistas são "habilmente" transformados em capital. A privatização da previdência social dos servidores federais, através da criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP) é exemplo disso. Não bastasse a contrarreforma da previdência de 2003, o Governo volta a atacar os servidores, buscando economizar com suas aposentadorias para engordar os bolsos da burguesia.
           
Há, portanto, um processo de continuidade na destruição do patrimônio público brasileiro. Há mais de duas décadas, com intensidade variável de acordo com a conjuntura, as conquistas da sociedade, obtidas com suor e sangue dos trabalhadores, são entregues ao capital internacional sob a forma de privatizações clássicas e "não-clássicas". A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) é um exemplo dessas privatizações disfarçadas.  Em última análise, sua criação significa retirar os Hospitais Universitários (HU) das universidades, e passá-los ao controle desta empresa pública de direito privado, com fins lucrativos.
           
Na prática, essa formatação jurídica e econômica tem consequências bastante graves. Os HU passarão, por exemplo, a ter abertura para a iniciativa privada em diversas áreas: financiamento de pesquisas, atendimento a segurados de planos de saúde, criação de cursos de graduação e pós-graduação pagos (como já ocorre no Hospital de Clínicas de Porto Alegre). Além disso, haverá ainda mais intensa precarização do trabalho, com a contratação de servidores por fora do Regime Jurídico Único (RJU), e graves prejuízos à formação dos estudantes da área de saúde, pois suas atividades de ensino e de extensão estarão atreladas à lógica privatista da EBSERH . O cenário é ainda mais assustador se tivermos em mente o art. 8º da lei que cria EBSERH (Lei n. 12550/2011), onde estão consignadas a finalidade lucrativa da empresa e a possibilidade de captação de recursos privados (“formas alternativas de captação de recursos”) na execução de seus projetos. Ou seja, atividades que não gerem lucro podem não estar presentes nos hospitais, pois eles acabarão entrando na mesma lógica de hospitais privados, que não veem pessoas necessitando ajuda para sua saúde, mas veem clientes que, quanto mais adoecem, mais rendem para os hospitais.

É inegável a crescente precarização da saúde pública em Pelotas. A grande defasagem de leitos pediátricos e cirúrgicos nos hospitais é forte exemplo disso, à qual se soma a situação caótica do pronto-socorro, com carências em diversas especialidades e deplorável situação das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Além disso, o Núcleo de Apoia à Saúde da Família não foi sequer implantado, em virtude da falta de investimentos e de vontade política dos governos.
           
Aproveitando-se disso, do sofrimento de milhares de famílias, o governo Dilma (PT) tem operado uma verdadeira chantagem, por meio dos parlamentares da base governista que atuam na região. Eles têm percorrido Pelotas e os municípios da região, tentando condicionar a construção de um novo HU à adesão à EBSERH.  O megaprojeto arquitetônico – que já existia muito antes da EBSERH e que já tem destinação de recursos para a sua construção – é oferecido à população de Pelotas como uma panaceia. Todos queremos o novo HU, o que não queremos é o que pretendem atrelar a ele: uma mal disfarçada privatização da saúde, sob a forma de contratualização com a EBSERH. Que se ouça a voz do Conselho Municipal de Saúde e dos movimentos sociais, sindicatos e entidades representativas, que têm se posicionado, de maneira clara, contra essa empresa e em defesa da saúde pública.
           
Essa chantagem é a velha política da "faca no pescoço", operada pelo governo federal, e que a comunidade universitária conhece bem: condiciona-se a liberação de recursos (que já estão destinados) para a construção do HU desde que esteja atrelado à lógica empresarial da EBSERH. É a repetição da tática usada para forçar a adesão ao REUNI, na época da regência de Lula, quando se condicionou o investimento nas universidades federais à adesão ao programa. O tempo mostrou que o REUNI apenas sucateou o ensino superior e precarizou, ainda mais, as condições de trabalho e ensino na  UFPel, além da destinação de seus recursos estar sendo objeto de investigação pelo Ministério Público da União...           

Não podemos, mais uma vez, esperar que o tempo nos mostre os efeitos nocivos da política governamental. É preciso ter claro, desde já, o que significa a contratualização da UFPEL com a EBSERH e  desmascarar o modelo de administração e de saúde privatista que o governo PT opera:
            a) retirada da autonomia universitária sobre o HU: a contratualização com a EBSERH se trata de uma cessão de todo o patrimônio da universidade referente aos HU para a empresa, que passa a controlar, gerenciar e definir as prioridades do HU de acordo com a sua missão social. Isso inclui a geração de lucros e a venda de serviços, o que retira completamente o caráter público do HU e impede qualquer processo democrático de escolha de funções diretivas da instituição. Além disso, a pesquisa, a extensão e o ensino realizados no HU não serão determinados pelas instâncias internas da universidade, mas, sim, de acordo com as prioridades definidas pelo conselho gestor da EBSERH;
            b) precarização do trabalho dos servidores do HU: a propalada "modernização" da gestão opera com a velha forma de precarizar o serviço público. Na EBSERH, os trabalhadores não serão mais contratados através de Regime Jurídico Único (RJU), abrindo margem para contratos via CLT, terceirização e até quarteirização de serviços na instituição. Significa dizer que se perdem uma série de direitos trabalhistas conquistados historicamente pela classe trabalhadora como o regime estatutário, estabilidade, plano de carreira etc. Importante frisar que estas conquistas não são meros privilégios, mas, sim, medidas que visam cercar de garantias o serviço público, para preservar seu caráter de política de Estado, em vez de variar ao sabor do governo de turno.
            c) precarização do atendimento a usuários do SUS: a difundida proposta de atendimento 100% SUS do novo HU em Pelotas é falaciosa, pois mesmo o atendimento pelo SUS pode ser utilizado em benefício dos planos privados de saúde. A lei do ressarcimento (Lei nº 9.656/1998) permite que as operadoras privadas de planos de saúde repassem ao Fundo Nacional de Saúde os atendimentos que não são cobertos ou que são muito dispendiosos para a esfera privada. Em outras palavras, os atendimentos que não geram lucros para as operadoras não são realizados em atendimento privado, mas destinados ao atendimento pelo SUS, aumentando ainda mais a demanda por atendimento via SUS ainda que de pessoas que tenham planos privados de saúde;
            d) geração de lucros e venda de serviços: a Lei 12550/2011, que cria a EBSERH, estabelece que os recursos constituintes da empresa são oriundos, além do orçamento da União, da prestação de serviços, da alienação de bens e direitos, aplicações financeiras, aluguéis, convênios e acordos com entidades nacionais e internacionais e rendas provenientes de "outras fontes". Isto é, a EBSERH pode captar recursos atrelados a interesses privados, gerando lucros e vendendo serviços, inclusive da venda de serviços referentes ao ensino. Por exemplo, nada impede que os HU façam convênios com instituições privadas de ensino para a realização de estágios e residências médicas. A pergunta que fica é: a EBSERH deve gerar lucros e, tendo em vista que as instituições públicas não pagarão pelas atividades de ensino no HU, e que as instituições privadas farão convênios pagos com a empresa, qual será a prioridade das atividades de ensino realizadas na EBSERH? As que geram lucros ou as que são públicas?
            O cenário que se desenha é preocupante. As graves consequências da instalação da EBSERH só serão evitadas se a classe trabalhadora e o movimento estudantil estiverem organizados para resistir a mais este assalto promovido pelo governo petista. Somamo-nos a todos os movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos na defesa da saúde pública e na luta pela construção do Hospital Universitário sem a EBSERH.


DEFENDER A SAÚDE PÚBLICA E BARRAR A EBSERH EM PELOTAS!
POR UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO INTEGRALMENTE PÚBLICO E SOB GESTÃO DA UFPEL!
POR MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO E ATENDIMENTO NA SAÚDE PÚBLICA DE PELOTAS!




Pelotas, 03 de setembro de 2013
            

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